Tri custioni: reductio ad absurdum e teologia da colonização
Abstract
A composição Tri custioni, para dois tenores e piano, foi estreada em Macapá em novembro de 2017, durante o VI SIMA. A peça é inspirada na leitura da obra Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski. A peça foi concebida a partir da composição de várias gerações de sílabas, usadas como material vocal mas também como baricentro semiótico da composição, que desobedece, de alguma forma, à supremacia do conjunto altura/duração, normalmente contemplado como verdadeira essência da música. A partir da rebelião de Ivan Karamazov e das suas implicações no contexto do campo crítico/programático da decolonialidade, a peça desobedece também a possibilidade de uma conciliação entre colonizados e colonizadores, vista como perspectiva perversa de esquecimento da violência perpetrada. Ao contrário, e mesmo colocando a enunciação fônica ao centro do próprio arsenal expressivo, a peça rejeita, fragmenta e destrói a linguagem, entendida como logos do invasor, como ferramenta colonial de imposição de uma ordem simbólica alheia. Palavras-chave: Composição; Desobediência; Reductio ad absurdum. 1. Introdução A composição Tri custioni ("três inquietações" ou "três questões" em siciliano), para dois tenores e piano, foi estreada em Macapá em novembro de 2017, durante o VI Simpósio Internacional de Música na Amazônia (SIMA 2017). A peça é inspirada na leitura da obra Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski (1970 [1879-80]), e em particular no livro V (DOSTOIÉVSKI, 1970, p. 217-284), isto é, a seção onde se desencadeia a rebelião de Ivan Karamazov. O discurso indignado de Ivan Karamazov parte da acusação contra o conceito cristão de salvação, segundo o qual, no fim dos tempos, todas as injustiças do mundo serão redimidas e o projeto divino será revelado: contra este dogma, Ivan defende a irredutibilidade das ofensas contra as(os) inocentes, recusando qualquer possibilidade de redenção e preferindo se rebelar contra Deus e renunciar à salvação. A reductio ad absurdum deste discurso consiste na projeção de um cenário distópico, contido no quinto capítulo, "O Grande Inquisidor" (DOSTOIÉVSKI, 1970, p. 251-269). Nesse cenário distópico, situado cronologicamente não no futuro e sim na época da Inquisição Espanhola, o livre arbítrio foi eliminado do mundo e a humanidade foi reduzida à escravidão por um organismo supremo de poder (a Igreja), eliminando qualquer possível fonte do mal e concedendo a felicidade a todos os seres humanos.
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